tag:blogger.com,1999:blog-9273064985875164762024-03-12T17:32:20.530-07:00Cebola nos dedosLacebo dos Nenoshttp://www.blogger.com/profile/13374801328678333260noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-927306498587516476.post-4550941217550621432014-12-12T11:15:00.002-08:002014-12-12T11:15:41.757-08:00<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 11.5pt; line-height: 150%;">VOA, BEIJA-FLOR, PRA QUEM NÃO TE CONHECE<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center;">
<span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 11.5pt; line-height: 150%;">(título
carinhosamente emprestado da dupla Jorge e Mateus)<i><o:p></o:p></i></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: right; text-indent: 35.4pt;">
<i><span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 11.5pt; line-height: 150%;">dedicado à boemia<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Georgia","serif"; font-size: 11.5pt; line-height: 150%;">Ela
surge no bar com um amargo encenado na boca. Que escolham bem quem beijar, ela
diz para quem está na fila do banheiro, e prepara-se para escovar os dentes na
pia em que os banheiros reúnem suas bactérias. Ela faz caretas de quem está com
um gosto ruim na boca. Claro está: há algo errado naquela cavidade bucal. A
coroa de flores que traz na cabeça indica que se trata de um figurino. Mas o
belo é a verdade. Antes o figurino que um corpo nu, penso, decadente, de
sentidos embotados, apaixonado pelo cheiro de cigarro das meninas elegantes que
fumam fora do bar, ao ar livre. A mentira que ora entra no bar interrompe a
sonolência costumeira e a desgutação da empada de palmito que esfarefalava em
minha boca. Está bêbada. Antecipo-lhe a boca mole com gosto de cerveja. A
escovada veio a calhar. Magrela, os lábios de jabuticaba são pouco mais da metade
do rosto. Umedeço os meus. Você dividiria a escova comigo? Claro, ela responde,
quer pasta também? Parem. Degustem. Passem a língua pelo inteiror das suas
bocas. Trata-se de momento inaugural. É a ultra-intimidade à primeira vista:
escovo os dentes, reencenando. Escolham bem quem vocês beijam, digo às pessoas da
fila. Quando devolvo a escova: Quimera, a verdade é que temos um match no
Tinder. Rapidamente ela conclui que devemos nos beijar e... beijamos. Mas é
preciso partir, ela diz sem dizer, logo partindo. O que vem fácil vai fácil, é
o costume com que me defendo. Permaneço no bar, os bocejos sumiram, estou
oxigenado e sorridente. Imagino o nosso futuro. Agora que já somos íntimos
assim, quem sabe possamos recuar um pouco e morar juntos, ter relações sexuais
diárias, conhecer um pouco mais um do outro e finalmente sermos apresentados um
ao outro... Estou apaixonado, penso. Não seja ridículo, penso. Estou
apaixonado, retruco defintivamente. Você é um imbecil, as dúvidas somem. De
onde surgiu tal moça? Não me faço essa pergunta, porque ela já foi respondida e
o esforço é justamente por não entender que ela veio de outro beijo, meu caro.
Ela é o beija-flor do Tinder. Ainda não sei disso. O coração, vocês sabem,
preciso dizer? O coração, ah, vocês sabem, está acelerado. Fico ali degustando
a boca escovada e beijada rodeado de outras bocas e vozes encervejadas. Quimera
Magrela, linda, sumindo na multidão a que o social insiste em dar forma. Quem é
quem, que eu vou beijar agora. Por onde andará a encarnação do que sempre
esperei? Ela. Fujo das demais bocas e conversas de rir e divertir. Procuro e
encontro. Ela me dá novo beijo e dá tchau. Nos encontramos ao acaso dois dias
depois, numa rua progressista da cidade. Preparo meus lábios. Ela me explica
que está de boca em boca com base em critério quantitativo, numa espécie de
carpe diem mal lido e adaptado para tempos pós-modernos. No novo encontro quero
saber mais do que anda a fazer esse beija-flor, mas ela pouco para por perto. Diz
que a minha cavidade bucal não conta porque já foi. Precisa de cavidades inéditas,
novas, atualizadas, além-tédio. Imediatamente, quero ser o adendo na cláusula
dela com eles, dela com ela mesma. Ela entende. Você quer um beijo? Beijamos. Vocês
sabem, o peito, eu já disse, e se repete: os batimentos. Vocês sabem, ela me
deixa... No meio da rua... E com cara de pegadinha... O beija-flor voa logo
para outra cavidade. Tento não olhar, num misto de desapego que pega bem e medo
de sofrer. Refugio-me no conhecido mais próximo, com saudades, desorientado de
peito abalado. Se você quer ter um pássaro (como é?), deixe que voe, se ele
voltar... Beija-flor ligado na tomada me faz viver três anos de namoro num só beijo
menos beijo que contato de cavidades bucais. Voa, beija-flor, que eu continuo aqui,
com o meu mel à disposição. Vai de boca em boca, em paz, e volta para o que você
merece: eu, que não te conheço, com o meu amor sabor empada de palmito. Mais íntimo
que escovar os dentes com a mesma escova é beijar com comida na boca. Já temos
para um novo passo para dar, beija-flor. Não há enjôo que nos ponha fim. A
surpresa infinita da ultra-intimidade à primeira vista persitirá. <o:p></o:p></span></div>
Lacebo dos Nenoshttp://www.blogger.com/profile/13374801328678333260noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-927306498587516476.post-68169184050897027192014-02-27T04:52:00.001-08:002014-02-27T04:52:33.958-08:00<span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; line-height: 18px;">Um cara aí de 72 anos sentia dores no braço que fora amputado há 48. </span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; line-height: 18px;">Começaram a fazer ele jogar uns jogos de computador em que tinha o braço de volta para dirigir carros e fazer sei lá o que mais.</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; line-height: 18px;">As dores diminuíram.</span><br style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; line-height: 18px;" /><span style="background-color: white; color: #37404e; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; line-height: 18px;">Será por que agora </span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #37404e; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; line-height: 18px;">aquele braço fantasma pode, ainda que na realidade virtual, fazer coisas?<br /><br />A próxima hipótese a levantar é...<br />Vocês sabem...<br /><br />reportagem: <a href="http://www.publico.pt/ciencia/noticia/realidade-virtual-ajuda-a-diminuir-a-dor-de-homem-que-ficou-sem-antebraco-1626289" rel="nofollow nofollow" style="color: #3b5998; cursor: pointer;" target="_blank">http://www.publico.pt/ciencia/noticia/realidade-virtual-ajuda-a-diminuir-a-dor-de-homem-que-ficou-sem-antebraco-1626289</a><br /><br />artigo completo:<a href="http://journal.frontiersin.org/Journal/10.3389/fnins.2014.00024/full" rel="nofollow nofollow" style="color: #3b5998; cursor: pointer; text-decoration: none;" target="_blank">http://journal.frontiersin.org/Journal/10.3389/fnins.2014.00024/full</a></span>Lacebo dos Nenoshttp://www.blogger.com/profile/13374801328678333260noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-927306498587516476.post-75576885386051337902014-02-13T04:27:00.001-08:002014-02-13T04:27:58.875-08:00<div class="MsoNormal">
Mais uma conta no Facebook<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Se você quer ter uma conta no Facebook, por quê você não
quer ter um Facebook?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Vai, escreve, desfia o teu rosário de baboseiras sem
fundamento<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
É claro que você tem pensado filosofias que nenhum Kant
escreveu<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Então agora escreva-as todas sofrendo a consciência delas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Resista, não delete<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ninguém vai te descobrir<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ninguém vai te achar e pedir as notas fiscais todas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Nem vão querer ver a tua biblioteca pessoal ou rastrear os
sítios que acessou.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Não, ninguém está disposto a encontrar a genialidade que
você esconde:<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ela está lá<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Vai ficar lá<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Vai ficar registrada lá nessa conta que promete uma grande
obra vindoura<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Vai ficar registrada lá<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Anônima como a criança que te masturba todas as semanas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Resista e não oculte um só verso<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Publique todos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Evidencie todos os backspaces teclados<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Todos os tatus tirados<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Todas as ideias infrutíferas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Diga não aos revisores<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Diga sim às ideias tolas<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Deixe-as contaminar as boas até que não as distinguamos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sem faro que todos estamos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Sem faro que todos continuaremos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Vamos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Em frente<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Pra trás<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Pra qualquer lado feito um gato cujos bigodes um miúdo
cortou<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Siga nisso com medo de terminar, avaliar, ponderar, mas já
ponderando errando o tempo<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
Como uma febre que dura e desnatura o que não precisava.<o:p></o:p></div>
Lacebo dos Nenoshttp://www.blogger.com/profile/13374801328678333260noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-927306498587516476.post-54345313401020197142013-11-08T06:20:00.002-08:002013-11-08T06:20:23.695-08:00<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>Parábola do tempo em que não havia Feicebuque, minha infância no
Parolin<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b>(fosse hoje e isso era um vídeo no Iú-Tube)<o:p></o:p></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Na frente da minha casa tinha uma
valeta a céu aberto. O ar, principalmente em dias de verão, tinha o cheiro
daquilo que a vizinhança havia ingerido, digerido e misturado ao ritmo dos seus
intestinos. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Do outro lado da valeta, tinha um
grande terreno baldio, meu vizinho da frente era um grande matagal cheio de mamonas. Eu e meus amigos tínhamos contruído uma ponte
para atravessar a valeta e, no terreno baldio, tínhamos construído uma cabana
toda mobiliada com o lixo que encontrávamos pela rua. As mamonas faziam o teto.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Certo dia ensolarado, jogamos um
de nós mesmos naquele rio fecal. A graça foi tanta que acabamos nos jogando
todos no esgoto a céu aberto, tomando, claro, o cuidado de encenar a coisa de
tal forma a parecer que não consguíamos escapar da queda que nos infligíamos
uns aos outros. Enquanto ríamos, já lá
dentro, arremesávamos os dejetos disponíveis uns nos outros. Se alguém ensaiava
uma saída (e era sempre um blefe), logo puxávamos o fugitivo para dentro da
valeta, que nos engolia mole pelo menos até a cintura.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
Acabada da graça, saímos todos
esmerdeados pela rua e tomamos então um banho de mangueira no jardim,
orgulhosos de nosso feito. Compúnhamos
bem com aquele dia de verão.<o:p></o:p></div>
Lacebo dos Nenoshttp://www.blogger.com/profile/13374801328678333260noreply@blogger.com1